Rayela
Resenhando Rayuela (O Jogo da Amarelinha) de Julio Cortázar para o jornal Correio da Manhã, em 30 de julho de 1967, Haroldo de Campos escreve: “Em Rayuela, Cortázar radicaliza seus processos e se lança de corpo inteiro à aventura do romance como invenção da própria estrutura do fabular, que caracteriza a mais consequente novelística de nosso tempo. O romancista intervém na própria sintaxe de seu reconto, que se propõe fisicamente como obra aberta. As unidades sintagmáticas (episódios) são dispostas de 1 a 56 de modo a comporem um primeiro livro, dividido em dois conjuntos, segundo um critério que diz respeito às unidades paradigmáticas (personagens) (…) Estes apontamentos, limitados pela circunstância jornalística, nos mostra que estamos diante de um romancista realmente criador, o único na América Latina de hoje que se pode ombrear com o nosso Guimarães Rosa (embora os textos de um e de outro pouco tenham em comum), isto para não falarmos desse mestre da prosa renovada que é o sexagenário Borges. E aqui ocorre mencionar que apesar de seu “cosmopolitismo” e de seu “formalismo”, apesar das visíveis e confessas influências literárias que recebeu do conservador e “reacionário” Borges, o autor de Rayuela está, politicamente, em posição oposta à do escritor de Ficciones.”